sábado, junho 09, 2012

Gostar do professor - II

Creio que não tem sentido perguntar se um aluno gosta do professor sem uma pergunta prévia: O professor gosta do aluno?


Que impressão me causava ouvir um(a) colega dizer, num Conselho de turma, “não gosto nada dele(a)”! E, mesmo que disfarce, não há aluno que não “sinta”, para não falar daqueles alunos que, tendo baixo autoconceito, a investigação constata que tendem para grande desconfiança mesmo quando não é verdade que o professor não gosta dele.

Neste segundo post sobre o tema, propus-me focar o aspecto da exigência do professor quanto aos comportamentos: Os alunos gostam de professores não permissivos, e severos face a maus comportamentos, nomeadamente faltas de respeito?

A minha resposta é segura: Sim, gostam, mas com a condição de que constatem que o professor os respeita sempre e que gosta deles – costumamos dizer que se trata do professor que pune com uma mão (em sentido figurado, claro) tendo sempre a outra pronta a encorajar e ajudar.

Não me vou deter em relatos dos poucos casos em que um aluno me faltou ao respeito em toda a minha vida profissional. Mas não omito uma verdade: depois de ter tratado os casos com grande (muito grande!) severidade (e muito à minha maneira, indiferente quanto a sanções legisladas), esses foram dos alunos que mais ganhei em respeito e consideração. Porquê? Porque, por muitos erros que tenha cometido como professora, nunca a condição que referi acima faltou a um aluno meu, acho que isso era inato em mim.

Prefiro deixar o relato de um caso que tem muito a ver com a tal pergunta prévia: “O professor gosta do aluno?”

O M. começara o 5º ano, e eu não comecei da melhor forma com ele. Era pouco amigo do estudo e mostrava-se agressivo. Nas primeiras semanas, a nossa relação falhou, foi má. E o caso andava na minha cabeça.

Planeei então falar com o M. daquela maneira que às vezes usei – perguntas de chofre, frontais e com autenticidade.

Na primeira oportunidade em que o encontrei no recreio (íamos ter aula), detive-o e disse-lhe que tínhamos que falar. Comecei por dizer que a nossa relação não estava nada boa e, logo de seguida: “Não gostas nada de mim, pois não?” Lembro-me bem de que ele ficou hesitante, eu disse-lhe que podia ser sincero, que não ficaria aborrecida senão não perguntava, e o M. então respondeu “Não gosto muito...”. De imediato (eu cá tinha a minha ideia), perguntei: “E achas que também não gosto de ti, não é?”

Pronto, estava começada a conversa pelo lado que eu pretendia.

Já não recordo os pormenores dela, sei que lhe expliquei que não era verdade, que eu gostava muito de ser professora e gostava de todos os meus alunos, mas que tinha que ser severa com maus comportamentos, que isso não significava que não me preocupasse com todos e que estava a conversar com ele porque gostava dele e era preciso que ele colaborasse,….. enfim, terá sido mais ou menos isto.

Penso que basta contar o fim: Estávamos perto da sala de aula, a turma esperava à porta, e o M. disparou a correr para junto dos colegas : “A professora de matemática gosta de mim!” – ouvi-o repetir, aos saltos.

Diz-se que quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto. Mas não, não estou a ampliar nadinha. Isto foi há muitos anos, ficou na minha memória, e o M., que até é meu vizinho, ainda hoje é  meu amigo. Na altura, logo a nossa relação mudou, o M. nunca mais voltou a ser agressivo e tive nele um colaborador durante os seus 5º e 6º anos, como lhe pedira.




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